sábado, 28 de agosto de 2010

uma questão de ponto de vista




do outro lado do espelho

Hamlet Lima Quintana - Gente Necesaria

Hay gente que con solo decir una palabra
enciende la ilusión y los rosales;
que con solo sonreír entre los ojos
nos invita a viajar por otras zonas,
nos hace recorrer toda la magia.

Hay gente que con solo dar la mano
rompe la soledad, pone la mesa,
sirve el puchero, coloca las guirnaldas,
que con solo empuñar una guitarra
hace una sinfonía de entrecasa.

Hay gente que con solo abrir la boca
llega a todos los límites del alma,
alimenta una flor, inventa sueños,
hace cantar el vino en las tinajas
y se queda después, como si nada.
Y uno se va de novio con la vida
desterrando una muerte solitaria
pues sabe que a la vuelta de la esquina
hay gente que es así, tan necesaria.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

os mineiros do Chile e o Kirk Douglas

Para mim foi impossível deixar de associar a tragédia dos mineiros de cobre no Chile, soterrados
no começo deste mes de agosto, com a história do filme A Montanha dos Sete Abutres (The Big Carnival /Ace in the Hole) realizado em 1951.
Um repórter (Kirk Douglas) já decaído em prestígio vai viver e trabalhar numa cidade pequena onde acaba por acontecer um acidente, com o soterramento de um mineiro. Com a conivência de outras pessoas que enxergam neste episódio uma forma de ganhar algum dinheiro e obter visibilidade, o repórter arma um esquema para explorar de todas as formas a desgraça do mineiro, postergando ao máximo as possíveis alternativas de resgate. A própria esposa da vítima acaba apoiando o esquema inescrupuloso do repórter e tudo acaba em tragédia, como logo se desconfia no decorrer do filme.
Qual a semelhança com o episódio do Chile? O risco sempre presente da midia armar um grande circo e fazer com que a documentação de cada bilhete, cada diálogo, cada imagem de sofrimento obtida seja explorada ao máximo, estando presente, via satélite, a cada mesa de jantar do planeta. O risco de que esta desgraça, fruto de acidente ou imprevidência da administração da mina, seja transformada em espetáculo. O risco, enfim, de que a notícia se transforme numa grande novela de ficção que já se prevê de longa duração, a julgar pela estimativa de quatro meses para que sejam alcançados os homens presos na mina. Como eles estarão até lá? como vão (sobre)(con)viver neste período? será que para além das imensas dificuldades inerentes a tal enfrentamento ainda terão que lidar com a (super)exposição pública?

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Brecht - Aos que vierem depois de nós

Realmente, vivemos muito sombrios!
A inocência é loucura. Uma fronte sem rugas
denota insensibilidade. Aquele que ri
ainda não recebeu a terrível notícia
que está para chegar.

Que tempos são estes, em que
é quase um delito
falar de coisas inocentes.
Pois implica silenciar tantos horrores!
Esse que cruza tranqüilamente a rua
não poderá jamais ser encontrado
pelos amigos que precisam de ajuda?

É certo: ganho o meu pão ainda,
Mas acreditai-me: é pura casualidade.
Nada do que faço justifica
que eu possa comer até fartar-me.
Por enquanto as coisas me correm bem
[(se a sorte me abandonar estou perdido).
E dizem-me: "Bebe, come! Alegra-te, pois tens o quê!"

Mas como posso comer e beber,
se ao faminto arrebato o que como,
se o copo de água falta ao sedento?
E todavia continuo comendo e bebendo.

Também gostaria de ser um sábio.
Os livros antigos nos falam da sabedoria:
é quedar-se afastado das lutas do mundo
e, sem temores,
deixar correr o breve tempo. Mas
evitar a violência,
retribuir o mal com o bem,
não satisfazer os desejos, antes esquecê-los
é o que chamam sabedoria.
E eu não posso fazê-lo. Realmente,
vivemos tempos sombrios.


Para as cidades vim em tempos de desordem,
quando reinava a fome.
Misturei-me aos homens em tempos turbulentos
e indignei-me com eles.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

Comi o meu pão em meio às batalhas.
Deitei-me para dormir entre os assassinos.
Do amor me ocupei descuidadamente
e não tive paciência com a Natureza.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

No meu tempo as ruas conduziam aos atoleiros.
A palavra traiu-me ante o verdugo.
Era muito pouco o que eu podia. Mas os governantes
Se sentiam, sem mim, mais seguros, — espero.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

As forças eram escassas. E a meta
achava-se muito distante.
Pude divisá-la claramente,
ainda quando parecia, para mim, inatingível.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

Vós, que surgireis da maré
em que perecemos,
lembrai-vos também,
quando falardes das nossas fraquezas,
lembrai-vos dos tempos sombrios
de que pudestes escapar.

Íamos, com efeito,
mudando mais freqüentemente de país
do que de sapatos,
através das lutas de classes,
desesperados,
quando havia só injustiça e nenhuma indignação.

E, contudo, sabemos
que também o ódio contra a baixeza
endurece a voz. Ah, os que quisemos
preparar terreno para a bondade
não pudemos ser bons.
Vós, porém, quando chegar o momento
em que o homem seja bom para o homem,
lembrai-vos de nós
com indulgência.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Mia Couto - Os Sete Sapatos Sujos


Não podemos entrar na modernidade com o actual fardo de preconceitos.

À porta da modernidade precisamos de nos descalçar.

Eu contei “Sete Sapatos Sujos” que necessitamos de deixar na soleira da porta dos tempos novos. Haverá muitos. Mas eu tinha que escolher e sete é um número mágico.

Primeiro Sapato: A ideia de que os culpados são sempre os outros.
Segundo Sapato: A ideia de que o sucesso não nasce do trabalho.
Terceiro Sapato: O preconceito de que quem critica é um inimigo.
Quarto Sapato: A ideia de que mudar as palavras muda a realidade.
Quinto Sapato: A vergonha de ser pobre e o culto das aparências.
Sexto Sapato: A passividade perante a injustiça.
Sétimo Sapato: A ideia de que, para sermos modernos, temos que imitar os outros.