quinta-feira, 15 de abril de 2010

Dorival Caymmi - O Cantador


Amanhece, preciso ir
Meu caminho é sem volta e sem ninguém
Eu vou pra onde a estrada levar
Cantador, só sei cantar

Ah! eu canto a dor, canto a vida e a morte, canto o amor

Cantador não escolhe o seu cantar
Canta o mundo que vê
E pro mundo que vi meu canto é dor
Mas é forte pra espantar a morte
Pra todos ouvirem a minha voz
Mesmo longe ...
De que servem meu canto e eu
Se em meu peito há um amor que não morreu
Ah! se eu soubesse ao menos chorar
Cantador, só sei cantar

Ah! eu canto a dor de uma vida perdida sem amor

quarta-feira, 7 de abril de 2010

O País de Outubro - eu AMO este livro do Ray Bradbury

... o país onde o ano esta sempre chegando ao fim. O país onde as colinas são nevoeiros e os rios são neblinas; onde os meios-dias passam rápidos, as sombras e os crepúsculos se alongam, e as meias-noites permanecem.O país constituído, de um modo geral, de porões, subporões, carvoeiras, sótãos e despensas que não fazem frente para o sol. O país cujas pessoas são pessoas de outono, que pensam tão-somente pensamentos de outono. Cujas pessoas, ao passarem a noite nos caminhos vazios, emitem ruídos de chuva...

Arte Poética - Jorge Luiz Borges


Mirar el río hecho de tiempo y agua
y recordar que el tiempo es otro río,
saber que nos perdemos como el río
y que los rostros pasan como el agua.

Sentir que la vigilia es otro sueño
que sueña no soñar y que la muerte
que teme nuestra carne es esa muerte
de cada noche, que se llama sueño.

Ver en el día o en el año un símbolo
de los días del hombre y de sus años,
convertir el ultraje de los años
en una música, un rumor y un símbolo,

ver en la muerte el sueño, en el ocaso
un triste oro, tal es la poesía
que es inmortal y pobre. La poesía
vuelve como la aurora y el ocaso.

A veces en las tardes una cara
nos mira desde el fondo de un espejo;
el arte debe ser como ese espejo
que nos revela nuestra propia cara.

Cuentan que Ulises, harto de prodigios,
lloró de amor al divisar su Itaca
verde y humilde. El arte es esa Itaca
de verde eternidad, no de prodigios.

También es como el río interminable
que pasa y queda y es cristal de un mismo
Heráclito inconstante, que es el mismo
y es otro, como el río interminable.

A Chuva - Jorge Luiz Borges




A tarde bruscamente se aclarou,

porque já cai a chuva minuciosa.

Cai e caiu. A chuva é só uma coisa

que o passado por certo freqüentou.

Quem a escuta cair já recobrou

o tempo em que a fortuna venturosa

uma flor lhe mostrou chamada rosa

e a cor bizarra do que cor tomou.

Esta chuva que treme sobre os vidros

alegrará nuns arrabaldes idos

as negras uvas de uma parra em horto

que não existe mais. A umedecida

tarde me traz a voz, a voz querida

de meu pai que retorna e não é morto.