domingo, 16 de dezembro de 2012

Adélia Prado




Estou alegre e o motivo beira secretamente à humilhação, porque aos 50 anos não posso mais fazer curso de dança, escolher profissão, aprender a nadar como se deve. 

No entanto, não sei se é por causa das águas, deste ar que desentoca do chão as formigas aladas, ou se é por causa dele que volta e põe tudo arcaico, como a matéria da alma, se você vai ao pasto, se você olha o céu, aquelas frutinhas travosas, aquela estrelinha nova, sabe que nada mudou. 


O pai está vivo e tosse, a mãe pragueja sem raiva na cozinha.

Assim que escurecer vou namorar. Que mundo ordenado e bom!
Namorar quem?

Minha alma nasceu desposada com um marido invisível. Quando ele fala roreja quando ele vem eu sei, porque as hastes se inclinam.

Eu fico tão atenta que adormeço a cada ano mais. Sob juramento lhes digo: tenho 18 anos. Incompletos.